quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Ingrata Quimera

Sonho vivo, pesadelo.
Gemidos que me chutam
As pálpebras.

Longe? Perto?
Real.

Aflição dormente,
chia a desarmonia
em cornucópia entorpecida.

Serenidade macabra,
que me amarras
à paz de onde quero sair.

Tira-me a ilusão.
Dá-me a existência.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Reflexo

Como estou mesmo a iniciar esta amostra de blog, e a aprender a arte que é mantê-lo e fazê-lo crescer, decidi que as pessoas que por aqui passarem têm o direito de me conhecer minimamente.

Há uns quantos meses atrás, na escola, a minha professora de Língua Portuguesa marcou-nos como "trabalho" fazer um auto-retrato escrito. Em conjunto, o professor de Desenho aproveitou a carruagem e encarregou-nos a cada um de pegarmos num espelho e pormos mãos à obra na elaboração de um auto-retrato a carvão, mas isso são outras andanças, que para aqui não são chamadas (eu e as minhas divagações...). De qualquer maneira, isto foi o que me saiu. Um pouco apressado, eu sei, mas que atire a primeira pedra quem não deixa/deixava os trabalhos da escola para a última da hora. Eu cá tenho muita experiência nesse campo.

Sem mais demoras:

Reflexo
O primeiro aspecto a apontar num auto-retrato com o meu nome é o seguinte: nada do que eu possa tentar escrever corresponde inteiramente à verdade. Pela simples razão de que eu ainda não sei quem sou. Consideremos então estas palavras como um reflexo de mim mesma (por mais horrenda que essa ideia possa parecer) mas num espelho que distorce ligeiramente a imagem. Uma fuga à realidade, por assim dizer. Não só pela razão referida, mas também porque a ideia de expor a minha própria análise não me agrada particularmente, eu que sou tão ligada a esse tesouro que é a intimidade do nosso pensamento.
E aqui está a minha primeira característica. Não sei se por receio, vergonha, ou educação em demasia, mas não sou de fazer coisas estapafúrdias nem de falar pelos cotovelos: com excepção de um grupo algo restrito de amigos e familiares, com quem tais acontecimentos, estranhamente, tendem a ser habituais. Chamam-me reservada e tímida aqueles que ainda não fazem parte desse grupo, ou que nunca virão a pertencer. E chamam-me alienada e esquisita os que sempre lá estiveram, e sempre estarão. Sou bastante sociável, mas poucos me conquistaram a ponto de merecerem invadirem o que de mais precioso tenho: a minha mente.
Um grande defeito meu é a insegurança. Custa-me muito tomar decisões, e penso que é a responsabilidade que me assusta. Dou comigo demasiado preocupada com o futuro e quase que me esqueço de viver o presente, estando sempre um momento adiantada. Sei defender convicções e tenho ideais, mas não vou negar que custou chegar até eles. Escolher não é fácil.
Tenho o dom de saber exactamente como irritar alguém, talento esse que uso para meu divertimento, e, confesso, por capricho. Além de tudo isto, as minhas mãos são feitas de manteiga (provocando-me alguns inconvenientes, e, por vezes, gargalhadas aos espectadores) e os meus pés teimam em chocar com cada peça de mobiliário que encontram e escorregar em qualquer tipo de piso. Como se tudo isto não bastasse, as segundas-feiras servem de pretexto para libertar toda a preguiça que acumulo (que, convenhamos, não é pouca) durante a semana e cuja expressão me é negada.
Vivo constantemente no mundo da lua. Quer no bom, quer no mau sentido. Permite-me viver grandes aventuras, mas também já me valeu umas quantas desilusões.
A escrita, seja ela de prosa ou poesia, o cheiro da tinta que veste o papel nu, esse sim, um dos meus grandes mundos de fantasia, onde me basta um pequeno movimento para que tudo o que eu quero aconteça. Seja o meu desejo o acariciar de uma face, o nascimento de uma planta, ou a colisão de duas estrelas, tudo isso me custará não mais que um pequeno conjunto de palavras. É ainda desconhecida magia mais poderosa. O desenho, que achei dentro de mim há medida que me ia conhecendo, tornou-se, também ele, uma parte central da minha vida. Deslumbra-me a capacidade de criar ideias, e de desafiá-las num só traço. De fazer transparecer emoções de forma brutal mas indirecta. Agrada-me a complexidade da sua interpretação e das suas infinitas possibilidades. A música, toda ela, uma das mais belas artes, a única que une os homens entre si. Sentir os meus dedos contra as teclas lisas e suaves de um piano dá-me paz interior e ajuda-me a escapar à correria diária, tornando-me alheia do mundo, deixando-me sozinha com as notas, em intimidade. O teatro, claro, paixão de sempre e para sempre, sem ser preciso acrescentar mais nada – apenas que a minha relação com esta arte está para além das palavras. A fotografia, uma nova e deliciosa descoberta; e, por último o cinema, essa forma maravilhosa de viver num oásis durante um par de horas e voltar a repeti-las sempre que quisermos. Enfim, a arte, em geral, é o meio que eu uso para não só sobreviver a este mundo, mas também viver no da imaginação, dos sonhos, do impossível.
A minha vida é feita de paixões. Do enfeitiçar de um sorriso, da troca de um olhar. Posso não saber grande coisa da vida, do que me espera, mas sinto-me bem com isso. Intrigada, pois a minha curiosidade não dorme, mas confortável.
Em suma, este foi um verdadeiro manual de instruções onde também as entrelinhas contam e que me deveria ter acompanhado à nascença. Um auto-retrato de alguém que vê embaciado quando se olha ao espelho e que ainda não sabe quem é. Porque ainda tenho muito para ver, viver, e sentir. E porque a vida é feita de mudança. Para melhor, espero.

Se chegou vivo até aqui, caro leitor, depois de aturar as crises existenciais de uma adolescente, recebe um chocolate. :)

segunda-feira, 14 de julho de 2008

É cada um por si, meus amigos!

Saudações, terrestres!

Ontem, do nada, senti o impulso irresistível de iniciar um blog.

Sou uma leitora ávida (de blogues e livros) e também diz que escrevo qualquer coisa, de vez em quando. Mas não costumo dar a conhecer aos outros aquilo que a minha imaginação hiperactiva por vezes produz. Porquê? Simples. Porque tenho medo que chamem a doutora do colete de forças. Não que me sinta mal com um colete de forças (ah... agora estão a perguntar-se se já vesti algum), mas é que o branco não é mesmo a minha cor. Talvez tingido de um salmãozinho.

Bem, este é basicamente um aviso prévio. Vou postar neste blog as minhas divagações, os meus pensamentos, as minhas observações... Basicamente toda a parvoíce que me vier à cabeça. Não vão ser sempre posts sarcásticos ou divertidos, nem vão ser sempre profundos e deprimentes. E estou a avisar já para ainda terem uma oportunidade de fugir e dessa forma manterem a vossa sanidade mental.

You have been warned.